quinta-feira, junho 17

A Rússia no século XXI

A Rússia pós-comunista está numa fase complicada de adaptação à democracia, embora os jovens estejam a adaptar-se melhor que as gerações mais antigas. Uma das alegações dos defensores desta transição é o maior acesso a bens de consumo que os mais jovens têm do que os seus antepassados teriam durante a era soviética. O país evoluiu de forma muito acelerada graças às políticas introduzidas que permitiram o fecho do fluxo importador e a venda do petróleo a baixo custo, deixando o país extremamente dependente da venda de recursos fósseis (o petróleo e o gás natural representam 80% das exportações), ao passo que na época na URSS era um país nitidatemente exportador de bens industriais.

Em 1996, Iéltsin foi reeleito, se pensa que tenha sido contratada uma empresa de publicidade política dos EUA para conseguir a vitória. Em 1998 é eleito sob influência directa de Iéltsin, Vladimir Putin, que actualmente é muito criticado, quer dentro da Rússia, quer fora dela, por falta de democracia e de liberdade de expressão. Os assassinatos de Anna Politkovskaia e de Alexander Litvinenko (a primeira com um tiro, o segundo através de Polónio-210) chocaram o mundo e levaram muitos analistas a pensarem na maneira como Putin tem considerado a liberdade de expressão. Contudo, Putin continua a ter uma grande popularidade na Rússia já que tem um apoio de 70% da população segundo uma sondagem recentemente feita.

Se por um lado, a população tem acesso a bens mais sofisticados, por outro a transição para o capitalismo tem vindo a baixar os indicadores sociais do país. O exemplo mais marcante desta baixa de indicadores é a expectativa de vida entre a população masculina, que vem sofrendo um forte declínio no país. Esse efeito é particularmente sentido nas áreas rurais, onde as populações locais, ou morrem aos poucos ou mudam-se para as cidades. De 1994 a 2004, a população da Rússia caiu de 149 milhões para 144 milhões de pessoas. Os russos também estão morrendo cada vez mais cedo, devido a problemas como alcoolismo e má alimentação, além de doenças como tuberculose e deficiências do sistema de saúde do país. Em 2004, a expectativa de vida média do homem russo era de 59 anos de idade


O conflito na Geórgia. (2008)

O conflito entre a Geórgia e as regiões separatistas da Abkházia e Ossétia do Sul tem origens no período de desintegração da União da Soviética (fim dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado). Então, Zviad Gamsakhurdia, Presidente da Geórgia, decidiu pôr fim à autonomia delas através da força. Destacamentos armados georgianos entraram na Abkházia e Ossétia do Sul, dando início à guerra civil que durou até 1994. Grupos armados separatistas, apoiados por Moscovo, conseguiram travar a ofensiva georgiana e controlar grande parte do território dessas duas regiões.
Em 1994, as partes do conflito, tendo a Rússia como intermediária, assinaram um cessar de fogo. Tropas de manutenção da paz russas instalaram-se na região, mas a contenda foi apenas congelada. Os presidentes georgianos, quando iniciam funções, começam por prometer o restabelecimento da unidade territorial. Os separatistas da Ossétia do Sul realizaram dois referendos onde o sim à independência do território e sua posterior unificação à Ossétia do Norte, república que faz parte da Rússia, teve o apoio da esmagadora maioria. Moscovo apoia, directa e indirectamente, os separatistas, utilizando-os como alavancas de pressão sobre Tbilissi. Por exemplo, a Rússia deu cidadania à esmagadora maioria da população dos dois teritórios separatistas.  

O envolvimento da Rússia no conflito complicou ainda mais as relações com países vizinhos como a Ucrânia e Estados do Báltico. No caso da Ucrânia, Kiev fornece armamentos a Tbilissi, porque receia que, depois da Geórgia, chegue a sua vez. Moscovo não esconde pretensões territoriais face à Ucrânia, exigindo a devolução da da Crimeia. E isso será mais um motivo para que a Ucrânia tente aderir à NATO o mais rápido possível.
Quanto à comunidade internacional, as últimas reuniões do Conselho de Segurança da ONU revelam fortes divergências entre os seus membros face ao conflito. Analistas russos contactados pela Lusa consideram que os conflitos como estes são de solução complicada no quadro do actual Direito Internacional, onde não está definido qual dos direitos: à autodeterminação dos povos ou à inviolabilidade de fronteiras, impera.

fonte: russobras.com

A Rússia e os ataques de 11 de setembro.

A posição da Rússia sobre os atentados de 11 de setembro nos EUA tem sido a de condenação dos atentados, apoio à intervenção norte-americana no Afeganistão e a defesa da criação de um sistema global, sob a égide da ONU e não unicamente de um ou dois Estados, de combate a todas as formas de terrorismo. A Assim, a Rússia tem apoiado os Estados Unidos na Guerra do Afeganistão.

Embora tenha se comentado sobre a possibilidade de uma “ocidentalização” da política externa de Putin, o apoio aos Estados Unidos tem interesses específicos e, não obstante, comporta alguns riscos e contradições. Entre os interesses, está o apoio internacional à intervenção russa promovida em algumas regiões de sua esfera de influência, em especial no Cáucaso. Assim, a Rússia afirma que o terrorismo transnacional deve ser combatido onde quer que ele esteja (inclusive existem indícios de relações entre chechenos e o grupo de Bin Laden).

fonte: http://shvoong.com/

Segunda Guerra da Checênia (1999)

A Segunda Guerra da Chechênia teve seu início provocado por ações chechenas em 1999, quando esse grupo explodiu alguns edifícios russos matando cerca de 300 pessoas e, simultaneamente, sequestraram um hospital matando mais 120 pessoas.

Após as ofensivas da Chechênia, o então governador Russo, Vladmir Putin deu ordens de ataque à capital da Chechênia, Grozny, com vários bombardeiros aéreos, destruindo grande parte da capital.

A partir daí, as duas nações travaram um confronto sangrento, com ataques de um lado e contra-ataques de outro, um exemplo disso foi a ocupação de um teatro Russo, com saldo de vítimas fatais de 150 pessoas em 2003, e novamente os russos bombardearam possíveis esconderijos dos chechenos nas montanhas.

Mas o pior estava por vir, em 2004 entre 2 e 4 de setembro, uma Escola Municipal na cidade Russa de Beslam, foi ocupada por cerca de 30 guerrilheiros onde estavam presentes, em sua grande maioria, crianças, os guerrilheiros permaneceram por três dias na escola, o desfecho foi terrível, pois os chechenos executaram, a tiros, 330 pessoas, maioria crianças, os hospitais atenderam cerca de 700 pessoas com vários tipos de ferimento.

Essa ação comoveu as pessoas em âmbito internacional devido ao tamanho da crueldade, e no povo Russo desencadeou um enorme sentimento de vingança.

A Rússia encontra, até os dias atuais, vários impasses para colocar um fim nesse conflito, como questões territoriais, econômicas, culturais, religiosas, crime organizado, sem contar os fatores geopolíticos enfrentados.

fonte: guerra.brasilescola.com.br

A Primeira Guerra da Chechênia (1994)

Em 11 de dezembro de 1994, as tropas russas entraram no território da República da Chechéêia, que marcou o início da Primeira Campanha chechena para erradicar o terrorismo e estabelecer a lei e a ordem na nação conturbada.
Os eventos, que desencadearam o conflito armado começaram a desenvolver no Outono de 1991, quando o governo checheno declarou a soberania e anunciou sua decisão para sair da RSFSR e a URSS. Durante os próximos três anos, o governo checheno estava ocupado com a dissolução dos organismos de poder anterior, cancelando as leis da Federação Russa e estabelecendo as forças armadas da Chechênia com o presidente Gen. Jokhar Dudayev na chefia.

As forças armadas da Chechênia estavam armadas com armas de fabricação soviética e pequenos equipamentos militares que foram deixados na República após a mudança da União Soviética. Um monte de absurdos foi escrito sobre os chechenos e Chechênia, acerca de combatentes da liberdade e da opressão e assim por diante, por pessoas que sabiam absolutamente nada sobre o que estava acontecendo lá.
Esta zona tem sido palco de lutas violentas de sangue, durante séculos, sobre o negócio e controle de rotas.

O fato de que as eleições foram realizadas em uma atmosfera livre de violência e foram declaradas livres e justas, eleições nas quais mais de 95% do povo checheno votou para permanecer dentro da Rússia, chama a atenção dos absurdos mentirosos que tentam vender histórias sobre lutadores da liberdade.

fonte: http://port.pravda.ru/

A URSS pós Guerra Fria

Em 1991, do desmembramento da URSS, surgiram 15 novos países, que procuraram manter suas fronteiras e se fortalecer em relação ao antigo poder central. Paralelamente ao seu apoio à desintegração da URSS, o Presidente da Rússia Boris Yeltsin articulou a criação da Comunidade de Estados Independentes (CEI), que reúne doze ex-repúblicas soviéticas (não foram incorporadas Lituânia, Letônia e Estônia), mas que ainda carece de consistência material e política. Embora a Rússia tenha herdado o patrimônio internacional da URSS (status de potência nuclear, assento no Conselho de Segurança, etc), as transformações da Perestroika provocaram uma drástica redução de sua presença no cenário internacional. 

As dissoluções do CAME e do Pacto de Varsóvia representaram a perda de influência no Leste Europeu, que rapidamente foi se aproximando do Ocidente. Sob protestos da Rússia, em 1997 iniciou-se o processo de inclusão da Hungria, da Polônia e da República Checa a OTAN, concluído em 1999. A diplomacia de Pró-ocidental de Gorbatchov resumia-se no conceito de Casa Comum Européia, que consistia em incorporar a Rússia nas estruturas ocidentais, em especial na União Européia. Em 1992, o volume de comércio da Rússia com os países do Terceiro Mundo declinou para um quarto em relação à década anterior. 

Os primeiros anos do governo Yeltsin amargaram o reflexo do recuo internacional da política externa russa, associado ao declínio de sua economia. A tese eurasianista defendia uma política externa mais independente, através do fortalecimento dos laços com China, Índia e outras potências emergentes (Brasil, entre outras) como forma de contrabalançar o poder norte-americano e a situação de subserviência da Rússia. Essa inserção internacional está amparada em um projeto mais definido de política externa que tem sido desenvolvido nos últimos anos, bem como na reorganização da economia russa, embora várias crises econômicas atrapalhem essa e os reflexos dos anos sob comunismo ainda se façam presentes.

fonte: http://port.pravda.ru/

A explosão nuclear em Chernobyl (1986)

No ano de 1986, os operadores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, realizaram um experimento com o reator 4. A intenção inicial era observar o comportamento do reator nuclear quando utilizado com baixos níveis de energia. Contudo, para que o teste fosse possível, os responsáveis pela unidade teriam que quebrar o cumprimento de uma série de regras de segurança indispensáveis. Foi nesse momento que uma enorme tragédia nuclear se desenhou no Leste Europeu.

Entre outros erros, os funcionários envolvidos no episódio interromperam a circulação do sistema hidráulico que controlava as temperaturas do reator. Com isso, mesmo operando com uma capacidade inferior, o reator entrou em um processo de superaquecimento incapaz de ser revertido. Em poucos instantes a formação de uma imensa bola de fogo anunciava a explosão do reator rico em Césio-137, elemento químico de grande poder radioativo.

Com o ocorrido, a usina de Chernobyl liberou uma quantidade letal de material radioativo que contaminou uma quilométrica região atmosférica. Em termos comparativos, o material radioativo disseminado naquela ocasião era assustadoramente quatrocentas vezes maior que o das bombas utilizadas no bombardeio às cidades de Hiroshima e Nagasaki, no fim da Segunda Guerra Mundial. Por fim, uma nuvem de material radioativo tomava conta da cidade ucraniana de Pripyat.

Ao terem ciência do acontecido, autoridades soviéticas organizaram uma mega operação de limpeza composta por 600 mil trabalhadores. Nesse mesmo tempo, helicópteros eram enviados para o foco central das explosões com cargas de areia e chumbo que deveriam conter o furor das chamas. Além disso, foi necessário que aproximadamente 45.000 pessoas fossem prontamente retiradas do território diretamente afetado.

Para alguns especialistas, a dimensões catastróficas do acidente nuclear de Chernobyl poderiam ser menores caso esse modelo de usina contasse com cúpulas de aço e cimento que protegessem o lugar. Não por acaso, logo após as primeiras ações de reparo, foi construído um “sarcófago” que isolou as ruínas do reator 4. Enquanto isso, uma assustadora quantidade de óbitos e anomalias indicava os efeitos da tragédia nuclear.

Buscando sanar definitivamente o problema da contaminação, uma equipe de projetistas hoje trabalha na construção do Novo Confinamento de Segurança. O projeto consiste no desenvolvimento de uma gigantesca estrutura móvel que isolará definitivamente a usina nuclear de Chernobyl. Dessa forma, a área do solo contaminado será parcialmente isolada e a estrutura do sarcófago descartada.

Apesar de todos estes esforços, estudos científicos revelam que a população atingida pelos altos níveis de radiação sofre uma série de enfermidades. Além disso, os descendentes dos atingidos apresentam uma grande incidência de problemas congênitos e anomalias genéticas. Por meio dessas informações, vários ambientalistas se colocam radicalmente contra a construção de outras usinas nucleares.

fonte: brasilesola.com.br

quarta-feira, junho 16

Principais conflitos dos países da CEI

Na Moldávia, na parte central do país, encontra-se uma região denominada de Transdnístria, nessa área grande parcela dos habitantes são pessoas de origem russa e ucraniana, assim, desde 1990, as etnias citadas buscam a autonomia territorial e política com o objetivo de não mais submeterem-se ao controle do governo da Moldávia, que é de origem romena. 

Com a fragmentação do território russo, a Ossétia do Sul ficou separada da Ossétia do Norte. Dessa forma, a primeira se estabeleceu no território da Geórgia, enquanto que a segunda encontra-se em território russo. 

Desde então a Ossétia do Sul busca ser anexada ao território russo para se unir ao restante de sua etnia, presente na Ossétia do Norte, e, com isso, compor uma única república autônoma. Há tempos os ossétios lutam contra as forças georgianas. 

Esse conflito reavivou-se no dia 08 de agosto de 2008, quando a Geórgia invadiu a Ossétia do Sul, e a Rússia, por sua vez, interveio e promoveu ataques ao território georgiano, invadindo-o em seguida, consolidando um conflito que já deixou dezenas de mortos e feridos. 

No sul da Ucrânia encontra-se uma província chamada Criméia, nessa região há uma maior concentração de pessoas de origem russa, desse modo, aspira anexar essa porção territorial à Rússia. 

No Azerbaijão existe um conflito que se arrasta há muitos anos sem chegar a nenhuma solução. No sudoeste do Azerbaijão se encontra a região de Nagorno-Karabakh, que abriga um elevado contingente formado por armênios. O grupo étnico em questão anunciou sua independência, ato que promoveu um grande conflito armado que perdurou por quatro anos. A guerra envolveu armênios e azerbaijanos.

Fonte: www.brasilescola.com

O fim do muro: a década de 90

"Um governo que não muda com a vida está condenado ao desaparecimento." A partir dessa frase de Gorbatchev, dirigida a estudantes alemães, as forças de oposição da Alemanha Oriental decidiram partir para a ofensiva final contra o governo. Em cinco semanas, o Muro de Berlim viria abaixo,

precisamente no dia 9 de novembro de 1989. Manifestação pela queda do muro "Eu acompanhei pessoalmente a crise dos refugiados, a comemoração do 40° aniversário da RDA e a queda do Muro de Berlim. Às vezes, tenho a impressão de ter participado de um sonho. Lembro-me de milhares de pessoas cruzando o muro naquela noite fria de outono, dos encontros de familiares e casais que durante
anos não puderam se encontrar, dos fogos de artifício, das cervejas e champanhes, das conversas, dos risos e dos choros de emoção. Eu tinha a nítida sensação de estar presenciando a própria história. Era óbvio que dali para a frente o socialismo na Europa do Leste havia chegado ao fim."
José Arbex jornalista A queda do Muro de Berlim foi festejada pelos governos e pela grande imprensa ocidental. Em poucos meses, todos os regimes socialistas chegavam ao fim na Europa. Na maioria dos casos, de forma pacífica. A exceção foi a Romênia, que viveu um processo sangrento por causa da resistência do dirigente Nicolai Ceausescu. Nos confrontos de rua estavam, de um lado, a população e setores das Forças Armadas. 
Do outro lado, a Guarda Nacional, fiel ao dirigente. O saldo foi de cerca de 10 mil mortos. Ceausescu e sua mulher, Helena, acabaram presos e submetidos a um julgamento sumário. Romenos exigem queda de Ceausescu Condenados à morte, foram executados diante das câmeras de TV, no dia 25 de dezembro de 89. Na Iugoslávia, o fim do muro foi o sinal para os nacionalistas desafiarem o governo central.m 1991, a Eslovênia e a Croácia foram as primeiras repúblicas a declarar independência. Em 92, foi a vez da Bósnia-Herzegovina. Questões étnicas e conflitos nacionalistas transformaram a região no cenário de uma sangrenta guerra civil. 
No final de 95, um acordo de paz na Bósnia traria uma certa estabilidade no convívio entre as repúblicas surgidas com o fim da Federação Iugoslava. O processo que conduziu ao fim do bloco socialista europeu foi marcado pelo descontentamento popular com o modelo vigente naqueles países. Além disso, durante todo o período de Guerra Fria, o ocidente procurou, de todas as formas, passar ao mundo socialista a imagem do capitalismo como a de um sistema quase perfeito, com liberdade e boas condições de vida para todos. Muita gente no bloco socialista acreditava que poderia usufruir apenas do lado bom do capitalismo. 
Outras pessoas achavam a democracia capitalista um modelo de sistema equilibrado. Em pouco tempo, no entanto, o antigo bloco socialista começou a sentir os problemas do desemprego, do desequilíbrio social e da frustração profissional. Uma das conclusões que se pode tirar de todo esse processo histórico é que a humanidade ainda está longe do caminho mais adequado para a vida em sociedade. Um sistema em seja possível reunir saúde, educação e trabalho para toda a população do planeta. De qualquer forma, como afirma o cientista político Eric Hobsbawn, a única coisa que se pode afirmar com certeza a respeito disso tudo é que enquanto existir o ser humano, existirá história.

Fonte: www.fabiovelasco.com – Video Aulas, Apostilas e Livros


Crise econômica e ascensão de Gorbatchev

A época era de crise econômica nos países socialistas, a começar pela União Soviética. O país enfrentava problemas como desemprego, falta de alimentos, prostituição e consumo de drogas. No Cáucaso soviético, o desemprego atingia cerca de um terço da população economicamente ativa. A não ser pelos progressos do setor militar e espacial soviético, a indústria no mundo socialista não acompanhava os avanços tecnológicos do Ocidente. O obsoletismo do parque industrial refletia-se no abastecimento da população. Na União Soviética, o racionamento de alimentos e a escassez de produtos como sabonete, roupas e calçados provocavam grandes filas nas principais cidades. Em oposição ao quadro de crise, uma camada da população, formada pelos funcionários da burocracia do Estado e do Partido Comunista, tinha acesso a bens e serviços fora do alcance do cidadão comum. Nos anos 80, sob o governo de Brejnev, mais do que em outras épocas, o conceito de socialismo foi deturpado pelos próprios dirigentes da União Soviética. A opinião pública ocidental tomou conhecimento de denúncias de corrupção generalizada na cúpula do poder de Moscou, garantida pela repressão da KGB, a polícia política soviética. Acompanhando esses fatos, fica mais fácil entender a força do Solidariedade na Polônia durante a década de 80. Depois dele, diversos grupos de oposição brotaram em toda a Europa do Leste, organizando os movimentos sociais que culminariam no desmantelamento do bloco socialista, em 1989.  Mas foi em abril de 1985 que surgiu um fato novo, decisivo para o futuro da Europa do Leste. Mikhail Gorbatchev chegava ao poder na União Soviética, com um amplo programa de reformas democráticas em seu país. Um empreendimento que em poucos anos mudaria sensivelmente a disposição geopolítica do planeta. O programa de Gorbatchev foi anunciado em 86, durante o 27° Congresso do Partido Comunista. Nos primeiros anos de governo, o líder tomou medidas de impacto. Declarou moratória nuclear unilateral, abrandou a censura à imprensa, libertou os presos políticos e, em 1988, iniciou a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, depois de 9 anos de intervenção militar. No âmbito da política externa, Gorbatchev revogou a chamada "doutrina Brejnev", esvaziando as funções do Pacto de Varsóvia e desmilitarizando o teor das conversações internacionais sobre assuntos estratégicos. A "era Gorbatchev" logo provocou um novo comportamento político nos países da Europa do Leste. Multiplicaram-se os movimentos democráticos na Hungria e na Tchecoslováquia. Na Polônia, o Solidariedade passou à ofensiva e reconquistou a legalidade. Mas foi na Alemanha, em 1989, que aconteceram as transformações mais expressivas. Aproveitando o clima de abertura, milhares de alemães-orientais começaram a deixar o país, a partir de agosto de 89. As autoridades evitaram um conflito direto com a oposição, para afastar o risco de um banho de sangue como o da Praça da Paz Celestial, ocorrido pouco antes, em 4 de junho, em Pequim, capital da China. No episódio, cerca de dois mil estudantes foram violentamente atacados pelas forças de segurança chinesas durante uma manifestação pela democracia. Na Alemanha Oriental, o dirigente Erick Honecker ainda tentou conter o ímpeto de mudanças no país. Mandou reprimir algumas manifestações mas foi desencorajado por Gorbatchev durante os festejos, em Berlim, do 40° aniversário de fundação da República Democrática Alemã, em outubro de 89.

Anos 80: crise política na Iugoslávia e na Polônia Refugiados bósnios

O desaparecimento do dirigente Josip Broz Tito, em maio de 1980, pôs fim a um período de estabilidade inaugurado em 1945 com a proclamação da República Popular da Iugoslávia. Após a morte de Tito, um líder carismático e centralizador, as aspirações separatistas ganharam força nas repúblicas integrantes da Federação iugoslava. Os movimentos nacionalistas viriam a radicalizar suas posições durante toda a década de 80, até a eclosão da guerra civil, em 1991. Também em 1980, no mês de setembro, surgiu na Polônia o sindicato independente Solidariedade, sob o comando do líder metalúrgico Lech Walesa. Era a primeira entidade civil de natureza política e social num país socialista a escapar do controle do Partido Comunista. Mesmo os movimentos da Hungria, em 1956, e da Tchecoslováquia, em 68, reprimidos por Moscou, foram liderados por comunistas, o húngaro Imre Nagy e o tcheco Alexander Dubcek. No caso do Solidariedade, ocorreu o oposto: o líder Lech Walesa era anticomunista e contava com a simpatia do Vaticano, na figura do próprio Papa João Paulo II, também polonês. Um apoio decisivo para a combatividade do sindicato. O Solidariedade passou a organizar greves e passeatas contra o governo. A crise econômica estimulava as atividades sindicais. Multiplicaram-se os panfletos, jornais, livros e revistas contestando o regime. O sindicato chegou a criar uma estação de rádio, num desafio aberto a Moscou. Em dezembro de 81, o governo polonês pôs os tanques nas ruas e decretou a ilegalidade do Solidariedade. O sindicato passou a atuar na clandestinidade, com apoio de parcela expressiva da população.

Anos 60: Brejnev

Em 15 de outubro de 64, Alexei Kossíguin assumiu o cargo de primeiro-ministro da União Soviética. Mas o posto principal de comando foi para as mãos do novo primeiro-secretário do Partido Comunista, Leonid Brejnev. O dirigente mostrou um estilo mais duro que o de Khruschev. Em 1968, agiu com vigor ao enfrentar uma crise com a Tchecoslováquia. Sob o governo de Alexander Dubcek, o país iniciava um programa de reformas conhecido como Primavera de Praga. Alexander Dubcek Para Brejnev, qualquer distúrbio num país do Pacto de Varsóvia representava uma ameaça potencial à aliança. Na Tchecoslováquia, no entanto, não havia distúrbios, mas um movimento interno de liberalização política. A Primavera de Praga terminou em agosto, quando tropas do Pacto de Varsóvia tomaram as ruas da capital tcheca. Ainda em 68, a Albânia, aliada do líder chinês Mao Tsé-tung, decidiu sair do Pacto de Varsóvia. Nesse caso, Brejnev não reagiu. A decisão albanesa não valia um confronto com a China. Além disso, a atitude do dirigente Enver Hodja apenas tornava oficial um afastamento que já existia desde 62. Nos anos 70, praticamente não se viu qualquer tipo de contestação política nos países socialistas. O maior problema de Brejnev foi outro: o surgimento do eurocomunismo na Itália, França e Espanha. Se por um lado a chamada "causa socialista" ganhava força na Europa Ocidental, por outro lado, e para o descontentamento de Brejnev, os partidos comunistas francês, espanhol e italiano não seguiam à risca as orientações ideológicas de Moscou. Com essa independência, os partidos buscavam maior sintonia com a opinião pública e com a própria identidade de seus países. Não fosse pelo eurocomunismo, a década de 70 teria reservado pouco destaque para o socialismo na Europa. Mas dois fatos importantes estavam por vir, no início  dos anos 80: o surgimento do sindicato independente Solidariedade, na Polônia, e a morte do marechal Tito, na Iugoslávia.

Pacto de Varsóvia

A criação do Pacto de Varsóvia Ao mesmo tempo, Khruschev tornava-se o principal arquiteto do Pacto de Varsóvia, um organismo militar criado em maio de 1955 como resposta à adesão da Alemanha à OTAN. O Pacto teve, no início, a participação da União Soviética, Albânia, Alemanha Oriental, Bulgária, Tchecoslováquia, Romênia, Polônia e Hungria. Em 1956, aconteceu na Hungria a primeira intervenção das forças do Pacto. No primeiro semestre, o país viveu um período liberal, Países do Pacto de Varsóvia sob o comando do dirigente Imre Nagy. A União Soviética acompanhou os acontecimentos a distância. Em outubro, Nagy decidiu retirar a Hungria do Pacto de Varsóvia, o que provocou a reação imediata de Moscou. Tanques do próprio Pacto entraram em Budapeste, pondo fim à iniciativa. Dois anos depois, Imre Nagy seria executado como traidor. Também em 56, os operários poloneses, influenciados pela Igreja Católica, iniciaram uma série de protestos que o Partido Comunista reprimiu antes da intervenção do Pacto.

Começo da Guerra Fria

Em junho de 1941, a União Soviética era invadida pelas tropas de Adolf Hitler. O objetivo era aniquilar o que Hitler chamava de "câncer comunista". Depois de três anos de guerra em solo soviético e quase trinta milhões de mortos, o Exército Vermelho de Josef Stalin reverteu a situação e iniciou sua marcha rumo a Berlim, a capital da Alemanha na época da Segunda Guerra Mundial. Os soviéticos foram os primeiros a ocupar Berlim, em abril de 1945. Cercado pelos comunistas, o führer cometeu suicídio, em 30 de abril. Dois dias depois, Berlim capitulou. Com o triunfo militar, a União Soviética ficou em boa posição para sentar-se à mesa de negociações, junto com a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Os líderes das potências vitoriosas tomaram para si a tarefa de reorganizar a estrutura geopolítica, econômica e financeira do mundo. Entre muitas decisões vitais para o planeta estava o futuro da região situada entre a Alemanha e a União Soviética, mais tarde chamada de Europa do Leste, ou Europa Oriental. Uma região de fundamental importância durante todo o período da Guerra Fria.

Conferência de Potsdam: formação do bloco socialista Churchill, Truman e Stalin Josef Stalin, da União Soviética, Harry Truman, dos Estados Unidos, e Winston Churchill, da Grã- Bretanha, reuniram-se na Conferência de Potsdam, no subúrbio de Berlim, de 17 de julho a 2 de agosto de 1945. Durante o encontro, Churchill foi substituído por Clement Attlee, do Partido Trabalhista inglês, vencedor das eleições e novo primeiro-ministro britânico. Na cúpula de Berlim, o mundo foi partilhado entre comunistas e capitalistas, dando origem aos blocos da Guerra Fria. O líder soviético, Josef Stalin, apresentou um fato consumado: seu país já ocupava toda a região da Europa a leste da Alemanha. Na conferência, a área foi formalmente reconhecida como de influência soviética. De um modo geral, a ocupação da Europa do Leste pelo Exército Vermelho e a imposição da política de Moscou aconteceram sem grandes resistências. As instituições políticas e as organizações sociais haviam sido desmanteladas pelas tropas de Hitler. Na Albânia e na Iugoslávia, no entanto, a União Soviética encontrou lideranças e instituições mais sólidas. Na Iugoslávia havia uma estrutura comunista bem organizada por Josip Broz Tito. O dirigente, após anos de resistência contra o ocupante nazista, decidiu não compartilhar com Stalin as decisões sobre os destinos de seu país. Até sua morte, em 1980, manteve uma política independente de Moscou. Na Albânia aconteceu um processo semelhante. O líder comunista Enver Hodja havia estruturado um forte grupo de resistência ao ocupante italiano, e assumido o poder após a derrota do Eixo, em 1945. Hodja também ficaria no poder até morrer, em 1985. Mas, diferentemente de Tito, manteve boas relações com Stalin. No final de 1948, Moscou estendia seu domínio até a Europa Central, numa vasta região que englobava a Polônia, a Hungria, a Tchecoslováquia, a Romênia e a Bulgária.

Nos primeiros anos do pós-guerra, o mundo estava se acomodando à nova ordem econômica e política, regida pelas duas maiores potências, Estados Unidos e União Soviética. Com a divisão formal da Alemanha, em 1949, estava configurada a Cortina de Ferro, como Churchill referia-se ao bloco socialista. E, com ela, o cenário definitivo da Guerra Fria na Europa.

Invasão da Polônia (1939)

No dia 1 de Setembro de 1939, às primeiras horas da manhã, as tropas da Alemanha hitleriana passaram a fronteira da Polónia, despoletando assim a II Guerra Mundial.

Os acontecimentos desse dia, vieram na sequência de um ano até ali cheio de movimentações e tomadas de posição que pareciam aproximar a Europa da guerra. Em 1938 a Inglaterra e a França, tentaram apaziguar Hitler, dando-lhe parte da Checoslováquia. Em Março de 1939, Hitler conclui o negócio ao ocupar a Morávia e a Boémia (actual República Checa).

A seguir à tomada desta parte da Europa, Hitler volta-se para a Polónia exigindo a devolução do chamado corredor de Danzig, que ligava a Polónia ao mar do norte, mas o objectivo de Hitler é claro: Varrer a Polónia do mapa.

A Inglaterra, entende então que não vale a pena continuar a apaziguar Hitler e que será necessário fazer-lhe frente. Avisa a Alemanha de que se entrar na Polónia isso implicará a guerra com a Inglaterra.


Hitler vacila. A Alemanha não está preparada para a guerra em 1939. A sua marinha não teria capacidade para fazer frente à Royal Navy e poderia repetir-se o problema da primeira guerra, com uma Alemanha isolada.

Em 21 de Agosto, numa reunião com os seus mais próximos colaboradores no entanto, fica demonstrado que os alemães estão convencidos de que a Inglaterra não entrará em guerra por causa da Polónia. Entre aqueles que afirmam isso, está o chefe da Luftwaffe, Hermann Goering.


Para explicar porque a Inglaterra e a França vão ficar quietas, afirma que os seus exércitos estão desactualizados e que as suas forças estão dispostas de forma defensiva. As forças aéreas não têm condições de defrontar a Luftwaffe.

Os líderes da Alemanha nazista, passam por cima do facto de a Grã Bretanha ter dados garantias explícitas à Polónia.

Nesse mesmo dia (15 de Agosto) são emitidas as ordens para a invasão da Polónia. O código é «Casa Branca I.Y –D = 26.8 –H = 4,30».

Mas nessa mesma noite, é emitida uma contra-ordem, suspendendo novamente a invasão, embora o movimento de tropas tenha começado. Quando a 31 de Agosto é recebida novamente a ordem de ataque, os generais aguardam até ao último momento que a ordem de atacar a Polónia seja cancelada.

Essa ordem, não chegará.


Em Berlim, às 09:00 da manhã do dia 1 de Setembro (um Domingo) o Rolls Royce do embaixador britânico para à frente da Wilhelmstrasse, a chancelaria do Reich. Do veículo sai o embaixador britânico para se encontrar com o ministro dos negócios estrangeiros Von Ribbentrop.


Von Ribbentrop informa Hitler da visita do embaixador britânico. Hitler fica lívido, e Goering estupefacto, afirma na altura: «… Se perdermos esta guerra, que Deus tenha piedade de nós!»

Contra todas as expectativas, as democracias ocidentais decidiram agir. A Grã Bretanha entregou à Alemanha um ultimatum, informando que ou as forças alemãs que entraram na Polónia voltam para trás, ou a Grã Bretanha declarará guerra à Alemanha.
O embaixador da França, entregou um ultimatum idêntico.

Muitos dirigentes alemães estão em pânico. 80% do exército está envolvido na invasão da Polónia. Se a ocidente a França atacar. Não há nada para impedir os franceses de tomarem toda a região a ocidente do rio Reno em poucos dias.


Mas a inacção da França e da Inglaterra vão jogar a favor da Alemanha. A declaração de guerra seguirá o seu caminho, mas os aliados ocidentais não se movem, e selam desta forma o destino da Polónia e o destino da Europa durante os seis anos seguintes.


O ataque à Polónia


O ataque à Polónia, efectuado pelas forças alemãs, leva o III Reich a movimentar 1.500.000 soldados. Às 04:45 começará a invasão.

A posição das forças na vespera da invasão

A invasão começa com a criação de um falso incidente em que participam tropas das SS disfarçadas de militares polacos que rebentam a sua própria estação de rádio para criar um incidente e abrindo caminho à justificação da invasão.

A invasão decorre em três frentes. A sul em direcção a Cracóvia está o general List com o X e VIII exércitos, equipados com carros blindados. No centro-norte, o general Von Reichenau comanda um considerável numero de carros blindados. A norte, da Prússia e da Pomerânia, descem os exércitos de Von Bock e Von Kuchler.


A progressão da invasão alemã durante os primeiros nove dias do conflito, altura em que os alemães já se encontravam às portas de Varsóvia.


O exército polaco, não está à altura da organização alemã. Como o exército francês, ainda se baseia nos cavalos como principal meio de locomoção. Toda a sua artilharia tem que ser rebocada por cavalos e a sua cavalaria ainda efectua cargas com sabres.

Chega a ocorrer uma carga de cavalos sobre os blindados alemães.

No entanto, não é correcto pensar que o exército polaco é todo ele equipado com armamento antigo. Os polacos dispõem de alguns blindados de fabrico próprio e artilharia relativamente moderna. O problema principal, é a absoluta incompatibilidade das suas tácticas com as tácticas alemãs que evitam entrar em confronto directo.


Quando a infantaria polaca ou os seus poucos tanques atacam de frente, os alemães fogem à luta, inflectem à direita ou à esquerda e prosseguem o avanço. Mais à frente encontrarão forças alemãs provenientes de outro sector e juntos cortarão os abastecimentos aos polacos que ficam assim cercados.


Grandes unidades polacas ficam assim cercadas nos primeiros dias e a 9 de Setembro já os alemães se encontram nas proximidades de Varsóvia. Uma bolsa de forças polacas tenta libertar-se mas não consegue. Antes que se completem 15 dias de guerra, a Polónia perdeu já 60.000 militares, e 130 canhões. Sete divisões polacas são aprisionadas.


O passeio alemão apenas para à entrada de Varsóvia. A 10 de Setembro os alemães já tentam entrar na cidade,que se encontra cercada e isolada dos principais corpos de exército polacos. Os alemães deparam-se com uma resistência meticulosa e organizada, mas como a resistência de Varsóvia depende do apoio que possa receber de outros sectores e o exército polaco está fraccionado, isolado e em muitos casos cercado, não consegue guarnecer as posições para a defesa da cidade.


Até 18 de Setembro, um dia depois de a URSS ter invadido a Polónia, grande parte do território que seria controlado pela Alemanha estava já tomado.


A 17 de Setembro, cumprindo a clausula do pacto Germano-Soviético, a União Soviética ataca a Polónia, cuja fronteira tinha sido completamente abandonada pelas forças polacas que se dirigiram para ocidente para combater os alemães.


A 20 de Setembro, as tentativas polacas de aliviar a posição de Varsóvia fracassam. A sul, o X exército alemão faz mais 80.000 prisioneiros e captura 320 canhões e 130 aviões polacos, enquanto que o VIII exército captura mais 90.000 prisioneiros. Em apenas 20 dias a Polónia perdeu 250.000 homens e uma enorme quantidade de material.


Com estas vitórias, o destino de Varsóvia está selado. O governo abandona a cidade e estabelece-se a sul, junto à fronteira com a Roménia.


Hitler ordena que Varsóvia seja tomada, antes que os russos avancem demasiado para ocidente. A 25 de Setembro Varsóvia é atacada por ar, num dos primeiros grandes ataques aéreos da II Guerra Mundial. No dia 27 às 12:00 a cidade devastada, decide render-se. Mais 120.000 soldados polacos rendem-se aos alemães.




A resistência polaca ainda continuará por alguns dias na área que separa alemães de russos, mas toda a resistência será fútil. Sem qualquer apoio e sem meios para resistir o exército polaco é derrotado e os soldados rendem-se em todas as frentes.


Hitler declara: A Polónia deixou de existir.


Alguns dados sobre a Polónia em 1939

Pretextos para uma invasão:


Em 1 de Setembro de 1939, a  invasão alemã da Polónia não foi apresentada ao povo alemão pelo ministro da propaganda Goebbels como uma simples invasão, mas sim como uma expedição punitiva destinada a defender os alemães que viviam na Polónia.


Os jornais alemães e as actualidades do cinema, mostraram imagens de alemães mal tratados , mulheres alemãs violadas pelos polacos, e toda a sorte de violências do tipo.


As alegações alemãs foram todas fabricadas, e apresentadas de tal forma à opinião pública alemã, que muitos alemães acreditaram nelas até ao dia em que as tropas russas entraram em Berlim, cinco anos e meio mais tarde.


Grande desproporção de meios


Quando a guerra começou, a população da Polónia era de aproximadamente 30 milhões, contra uma população alemã de 80 milhões. No entanto, quando se analisam os gastos militares da Alemanha e da Polónia a diferença é enorme, principalmente por causa da grande desproporção entre a economia da Alemanha e da Polónia em 1939.




A proporção de gastos militares alemães para os gastos militares polacos foi a seguinte nos cinco anos anteriores ao inicio da guerra:

1935: 1 para 21

1936: 1 para 21
1937: 1 para 25
1938: 1 para 29
1939: 1 para 54

A situação polaca foi ainda piorada pelo facto de os polacos terem tentado nacionalizar ao máximo a sua industria de defesa. As armas polacas ficavam na realidade mais caras que as armas importadas, o que acabou por agravar ainda mais a inferioridade polaca.


Entre outras razões da rápida derrota polaca, está também o facto de desde os anos 20 a Polónia ter construído muitas das suas defesas voltadas para a Rússia, país que tinha ocupado a Polónia, e não para a Alemanha.


Ocupação da Polónia oriental pelos soviéticos


Uma grande parte da Polónia caiu nas mãos de União Soviética e foi incorporada ao país. A parte norte tornou-se dependente da Bielorússia enquanto que a área a sul foi incorporada na Ucrânia.


Durante a primeira fase da ocupação soviética, grande parte dos militares polacos que escaparam dos alemães fugindo para leste, foram por sua vez juntos pelos soldados russos e assassinados em Katyn.


O massacre foi mais tarde descoberto, mas a União Soviética só reconheceu que tinham sido os russos a assassinar 23.000 militares polacos, depois do desaparecimento da União Soviética.



Partilha da Polónia


A Polónia deixou de existir como Estado Independente, conforme o acordo efectuado entre Hitler e Estaline.


1 - Directamente anexado ao III Reich.
2 - Governo-Geral da Polónia (administrado pela Alemanha)
3 - Anexado pela União Soviética (norte para a Bielorússia e sul para a Ucrânia)
4 - Incorporado à Lituânia e mais tarde incorporado à União Soviética quanto este país invadiu os estados do Báltico

A União Soviética e os Estados Unidos: relacionamento ou estranhamento?

As relações entre a União Soviética e os Estados Unidos eram movidos por uma complexa interação de ideológicos, políticos e económicos, o que conduziu a cooperação entre cautelosa e muitas vezes amarga rivalidade entre as superpotências ao longo dos anos. As diferenças significativas entre os sistemas políticos dos dois países, muitas vezes impedia de chegar a um entendimento mútuo sobre as questões-chave da política e até mesmo, como no caso da crise dos mísseis de Cuba, trouxe para a beira da guerra. 

O governo dos Estados Unidos foi inicialmente hostis aos líderes soviéticos para tirar a Rússia da Primeira Guerra Mundial e se opôs a um estado baseado ideologicamente com o comunismo. Embora os Estados Unidos iniciaram um programa contra a fome na União Soviética no início dos anos 1920 e empresários norte-americanos estabeleceram laços comerciais ali durante o período da Nova Política Econômica (1921-1929), os dois países não estabelecer relações diplomáticas até 1933.Por esse tempo, a natureza totalitária do regime de Joseph Stalin, apresentou um obstáculo intransponível para as relações amistosas com o Ocidente. Embora a II Guerra Mundial levou os dois países na aliança, com base no objetivo comum de derrotar a Alemanha nazista, na União Soviética agressiva antidemocrática, a política para a Europa Oriental havia criado tensões antes mesmo do fim da guerra.
  A União Soviética e os Estados Unidos ficaram afastados durante as próximas três décadas de conflito e superpotência nuclear e de mísseis corrida armamentista. Começando no início dos anos 1970, o regime soviético proclamou uma política de dtente e buscou uma maior cooperação econômica e das negociações de desarmamento com o Ocidente. No entanto, a posição soviética sobre os direitos humanos e sua invasão do Afeganistão em 1979, criou novas tensões entre os dois países.Essas tensões continuaram a existir até que a dramáticas mudanças democráticas de 1989-1991 levou ao colapso durante o ano passado do sistema comunista e abriu o caminho para uma nova amizade sem precedentes entre os Estados Unidos ea Rússia, bem como as outras nações do novo da antiga União Soviética. 

Pós- 2ª Guerra Mundial e Início da Cold War

Guerra Fria: o estranhamento do pós-guerra

As democracias ocidentais ea União Soviética discutido o andamento da Segunda Guerra Mundial e da natureza do acordo pós-guerra, nas conferências de Teerã (1943), Yalta (fevereiro 1945) e Potsdam (julho-agosto 1945). Após a guerra, os conflitos entre a União Soviética e as democracias ocidentais, em particular sobre a aquisição soviética dos países europeus do leste, levou Winston Churchill em 1946, para advertir que uma "cortina de ferro", foi descendo no meio da Europa. Por seu lado, Joseph Stalin aprofundou o distanciamento entre os Estados Unidos ea União Soviética, quando ele afirmou em 1946 que a Segunda Guerra Mundial foi uma consequência inevitável e inelutável do "imperialismo capitalista" e insinuou que uma guerra pode reaparecer.
A Guerra Fria foi um período de concorrência Leste-Oeste, tensão e conflito de curta escala plena guerra, caracterizada pela percepção mútua da intenção hostil entre alianças político-militares ou blocos. Houve guerras reais, às vezes chamado de "guerras por procuração", porque foram travadas por aliados soviéticos, em vez de a URSS se - junto com a competição por influência do Terceiro Mundo, e uma grande superpotência corrida armamentista.
Depois da morte de Stalin, as relações Leste-Oeste passou por fases alternadas de relaxamento e de confronto, incluindo uma fase de cooperação na década de 1960 e outro, denominado dtente, durante a década de 1970. A fase final durante os anos 1980 e início de 1990 foi saudada pelo presidente Mikhail Gorbachev, e especialmente pelo presidente da Rússia pós-comunista nova república, Boris Yeltsin, bem como pelo Presidente George Bush, como o começo de uma parceria entre os dois estados que poderia resolver muitos dos problemas globais.

Guerra Fria: Perspectivas Soviética

Após a II Guerra Mundial, Joseph Stalin viu o mundo como dividido em dois campos: os regimes capitalistas e imperialistas, por um lado, eo mundo comunista e progressista, por outro. Em 1947, o presidente Harry Truman falou também de dois sistemas diametralmente opostos: um livre, ea outra dobrada em subjugar outras nações.
Depois da morte de Stalin, Nikita Khrushchev, em 1956, afirmou que o imperialismo eo capitalismo poderiam coexistir sem guerra, porque o sistema comunista tornou-se mais forte A Cimeira de Genebra de 1955 entre a Grã-Bretanha, França, União Soviética e os Estados Unidos ea Cúpula de Camp David de 1959, entre Eisenhower e Khrushchev aumentou as esperanças de um espírito mais cooperativo entre o Oriente eo Ocidente. Em 1963 os Estados Unidos ea União Soviética assinaram acordos de algum edifício-confiança, e em 1967 o presidente Lyndon Johnson, reuniu-se com primeiro-ministro soviético Aleksei Kosygin em Glassboro, New Jersey. Intercalados com esses movimentos para a cooperação, no entanto, foram actos hostis que ameaçam o conflito mais amplo, como a crise dos mísseis cubanos de outubro de 1962 e liderado a invasão soviética da Tchecoslováquia de 1968.
  O longo governo de Leonid Brejnev (1964-1982) está previsto na Rússia como o "período de estagnação."  Mas a postura Soviética para os Estados Unidos tornaram-se menos abertamente hostis no início de 1970. As negociações entre os Estados Unidos ea União Soviética resultou em reuniões de cúpula e da assinatura de acordos de limitação de armas estratégicas. Brezhnev, proclamada em 1973, que foi a convivência pacífica, permanente e irreversível estado normal das relações entre os países imperialistas e comunistas, mas advertiu que o conflito poderia continuar no Terceiro Mundo. Na década de 1970, a repressão interna crescente ea invasão soviética do Afeganistão, levou a uma renovação da Guerra Fria.
  Visualizações Soviética dos Estados Unidos mudou mais uma vez após Mikhail Gorbachev chegou ao poder no início de 1985. Os controles das negociações de armas foram renovados, eo presidente Reagan levou a cabo uma nova série de reuniões de cúpula com Gorbachev que levou a reduções de armas e facilitou uma crescente simpatia mesmo entre líderes comunistas de uma maior cooperação ea rejeição de uma classe baseada em conflito orientada vista, a mundo.
Com o reconhecimento do Presidente da independência das outras repúblicas da antiga União Soviética e seu lançamento de uma escala económica programa de reforma completa projetada para criar uma economia de mercado, a Rússia comprometeu-se, finalmente, a superação tanto do imperial e do legado ideológico da União Soviética .

http://www.ibiblio.org/expo/soviet.exhibit/coldwar.html 

Avanço nazista no Leste Europeu

Um dos pretextos para a expansão alemã foi a presença de um grande número de alemães vivendo nos países do Leste  europeu e que desejavam a união com a Alemanha,  conhecida como Anschluss.

OCUPAÇÃO DA ÁUSTRIA

Já em 1934, nazistas austríacos haviam marchado sobre Viena, na tentativa de promover o Anschluss.  O golpe fracassou, mas, desde então, o governo austríaco ficou infiltrado de elementos do III Reich.

Finalmente, em 2 de março de 1936, os exércitos de Hitler marcharam sobre Viena, consumando a ocupação da Áustria, sem que houvesse qualquer resistência.

OCUPAÇÃO DA TCHECOSLOVÁQUIA
Também na Tchecoslováquia havia uma área, conhecida como Sudetos, habitada por alemães, sobre a qual Hitler reclamava direitos de ocupação.  Mas, ao contrário do que ocorrera na Áustria, o governo tcheco mantinha-se firme contra as pretensões do Füher.
Inglaterra e França temiam que o incidente levasse a uma nova guerra, para a qual não estavam preparadas e, por isso, iniciaram uma ação diplomática, tentando convencer o governo tcheco a aceitar as imposições de Hitler.

Diante da firmeza do governo Tcheco, a França, a Alemanha, a Inglaterra e a Itália promoveram a Conferência de Munique (29/9/1938), na qual consentiram em que a Alemanha ocupasse os Sudetos.  Resultado: Hitler invadiu a Tchecoslováquia em março do ano seguinte, apossando-se, além dos Sudetos, de grande parte do território tchecoslovaco.

OCUPAÇÃO DA POLÔNIA

A investida seguinte de Hitler foi contra a Polônia, para ocupar a faixa de território conhecida como “corredor polonês”, que dividia a Alemanha em duas partes.

Dessa vez, porém, o governo inglês, pressionado pela opinião pública e por setores do Parlamento, comprometeu-se a garantir a independência da Polônia.  Tornava-se cada vez mais evidente a proximidade de uma nova guerra.

A questão da Polônia

As potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial descobriram à sua custa que é mais fácil simpatizar com as desventuras da Polónia em abstracto do que com os dirigentes polacos em concreto. Jozef Pilsudski (1867-1935), que foi o homem forte da Polónia desde 1918 até à sua morte, é um excelente exemplo de como as abordagens simpáticas mas condescendentes dos representantes franco-britânicos foram cilindradas pelos objectivos que Pilsudski estabelecera para o seu país.

Um dos primeiros problemas para perceber Pilsudski é o de o localizar no espectro partidário. É uma tarefa complicada, a fazer lembrar justamente o problema do leque político actual da Polónia. Originalmente Pilsudski – que nasceu em território hoje lituano e oriundo de uma família de ascendência lituana, embora fosse culturalmente polaca – pertencera e fora um dos dirigentes revolucionários clandestinos do Partido Socialista Polaco em luta contra o poder czarista.

Mas Pilsudski não pretendia ser uma espécie de Lenine à dimensão polaca. De facto, o que lhe interessava do socialismo era a parte da luta contra as autoridades russas e o seu objectivo principal era a independência da Polónia. Estando os polacos submetidos a três administrações distintas, russa, alemã e austríaca, foi a esta última, mais benigna, que Pilsudski se aliou quando começou a Primeira Guerra Mundial. Tratava-se de uma jogada arriscada, a dois tempos, que acabou por se adequar ao desenrolar da História.

Numa primeira fase, tratava-se de eliminar os russos (o que veio a ser conseguido, com a Revolução russa de 1917), para depois redireccionar as reivindicações de independência para os dois Impérios Centrais (que chegaram a prender Pilsudski e outros dirigentes nacionalistas) enquanto procuravam contar continuamente com o apoio da França e da Grã-Bretanha para as suas ambições. Foi um percurso tortuoso de que só houve a certeza que funcionara em Novembro de 1918 com a derrota alemã.
A descrição de Pilsudski, que se tornou no herói da independência nacional polaca do Século XX, é assim complexa, a de um socialista, mas apenas interessado nos seus aspectos utilitários, um revolucionário mas ditatorial, de certa forma um romântico mas também realista e, acima de tudo, um nacionalista primeiro e antes de tudo. Um polaco do Leste, nascido em terras lituanas, com uma concepção de Polónia alargada a todos os eslavos não russos, na sua configuração de 1386 a 1772.

A grande Guerra Civil russa (1919-24), que opunha os bolcheviques e Lenine à longa lista de inimigos, tornou-se uma ocasião conveniente para que a Polónia, mesmo com um exército ainda em fase embrionária – mas equipado pelos franco-britânicos – se expandisse para Leste. Numa espécie de ressurreição do casamento dinástico entre a Polónia e a Lituânia do Século XIV, Pilsudski firmou uma aliança política com os nacionalistas ucranianos de Simão Petliura.

Aquela associação veio a revelar-se um fiasco. Os nacionalistas ucranianos não passavam de mais um grupo político na imensidade dos que existiam por essa altura na Rússia, com o inconveniente de acentuar aos bolcheviques a dimensão da ameaça representada pelas ambições polacas de entre as várias ameaças (da direita, da esquerda e dos diversos grupos nacionalistas) a que os soviéticos estavam sujeitos naquela altura. E que se impunha resolver…
O episódio da contra-ofensiva soviética dentro da Guerra Polaco-Soviética (1919-20), começou com o ataque das forças do Exército Vermelho, comandadas pelo general Mikhail Tukhachevski (figura merecedora de um poste a ele dedicado…), em Julho de 1920, e veio a resolver-se de forma decisiva com um contra-ataque vitorioso das forças polacas quando os soviéticos já se aproximavam de Varsóvia, em Agosto. O ânimo recuperado dos polacos fê-los depois reconquistar quase todo o território perdido.

Foi uma guerra curta, sobretudo tendo em conta a duração das operações de alta intensidade. Mas teve um significado político manifesto na Europa, ao retirar qualquer aura romântica às intenções soviéticas a respeito dos imperialismos. No início da guerra, com as excepções da Espanha e da Holanda e, naturalmente, dos países vizinhos da Rússia saídos do seu império, ainda não houvera rupturas formais entre partidos socialistas e comunistas na Europa. Quando a paz foi assinada, em Março de 1921, faltava apenas o caso da Noruega…

Dentro da Polónia, os resultados da guerra também foram objecto de uma pantomina cuja receita tem a assinatura típica de Pilsudski. A responsabilidade pela vitória contra os soviéticos foi atribuída publicamente aos conselhos – que foram efectivamente ignorados… – do General francês Maxime Weygand, numa gigantesca operação de charme e relações públicas que permitiu a Pilsudski agradecer e reconfortar egos de franceses e britânicos pelo auxílio que efectivamente eles não haviam prestado…

Por causa desta predilecção de Pilsudski pela discrição, a política polaca de entre guerras tornou-se frequentemente um jogo de sombras onde o primeiro-ministro podia ser um compositor, pianista e diplomata de renome mundial (Ignacy Paderewski) mas onde o poder real permanecia nas suas próprias mãos. O jogo manteve-se até que a redacção da Constituição de 1921 limitou os poderes do futuro Presidente, o que fez Pilsudski, como acontecerá com de Gaulle 25 anos mais tarde, renunciar à candidatura ao cargo para onde o queriam engaiolar
A diferença é que Pilsudski só esperou 4 anos (1922-26) pelo regresso ao poder e fê-lo através de um descarado golpe de estado em que desalojou um governo de direita, com o auxílio das forças armadas (onde tinha grande prestígio) e o apoio de greves dos sindicatos dos ferroviários de inspiração socialista. O regime que nasceu desse golpe de estado não deixou de ser menos autoritário nem menos anti-soviético, por causa desses pergaminhos de esquerda à nascença… Pilsudski tornou-se o primeiro-ministro.

Mas não por muito tempo (1926-28). No seu estilo peculiar (a lembrar a aposentação de Deng Xiaoping na China) Pilsudski retirou-se das primeiras filas e continuou a dominar ditatorialmente a política polaca mas a partir de cargos tão discretos como os de Ministro da Defesa ou de Inspector-Geral das Forças Armadas até à sua morte em 1935. O regime continuou tão autoritário e o país tão mal comportado e tão mal agradecido (na perspectiva franco-britânica…) quanto o fora antes.

Chegou ao desplante de proclamar pretensões a domínios coloniais, invocando que as nações jovens também tinham direito a uma nova partilha das colónias: Madagáscar (sob domínio francês…) seria uma excelente hipótese de trabalho! A realidade é que o apoio franco-britânico, por muito que representasse em termos de softpower na SDN, nada representava – como as duas invasões (alemã e soviética) de Setembro de 1939 vieram a demonstrar… – quando viesse a ser solicitado para se impor no terreno.
Aliás, uma parte da elite do estado polaco era de uma indisfarçável origem prussiana, como a dos seus vizinhos alemães, como se comprova nas coincidências de figuras homónimas dos dois lados da fronteira. Havia o General alemão Ludwig Beck, Chefe do Estado-Maior do OKH até 1938 e Jozef Beck, Ministro dos Negócios Estrangeiros polaco de 1932 a 39; havia o General comandante das Forças polacas de Varsóvia em 1939, Juliusz Rómmel que defrontava, do outro lado, um seu homónimo destinado a tornar-se muito famoso no futuro: Erwin Rommel.

Até ao fim, quando se viu fatalmente cercada pela assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop em Agosto de 1939, a Polónia sempre hesitou num eixo orientador da sua política externa, chegando a privilegiar descaradamente a opção pró-alemã (Hermann Goering era visita particular para a caçada ao alce na floresta de Bialowieza) em detrimento da soviética. A Polónia chegou a ser um dos países beneficiados, ainda que de forma marginal, pela decomposição da Checoslováquia…

Esta é uma descrição muito sumária da História da Polónia de entre as guerras. É claro que se trata de uma simplificação para blogue dos acontecimentos, estruturados à volta de uma figura dominante que foram, na realidade, muito mais complexos. Mas servem perfeitamente de exemplo para que, descrevendo o passado, se compreenda como a tradição da luta política na Polónia tem tanto de feroz e sórdido quanto pouco de democrático quanto às regras que ali (não) se praticam.

Rotular de extremistas de direita o movimento político dos gémeos Lech e Jaroslaw Kaczynski, por exemplo, é apenas uma forma simplificada de classificar sem explicar e, provavelmente, sem perceber em que é que consiste o espectro político polaco na actualidade. Na Polónia tudo é confuso. Alguém conceberá que Wojciech Jaruzelski, o general do regime que reprimiu o Solidariedade em 1981, tivesse sido desterrado com a família para a Sibéria em 1940, onde aliás veio a perder o pai?... Pois é, afinal o general que defendeu o comunismo, até foi uma vítimas dos deportações de Staline...

http://herdeirodeaecio.blogspot.com/2007/05/jozef-pilsudski-e-polnia-de.html

Entre-Guerras e Formação do Estado Iugoslavo e Tcheco

 Tchecoslováquia
A Tchecoslováquia nasceu da união das nações tcheca e eslovaca após a Primeira Guerra Mundial, em decorrência da fragmentação do Império Austro-Húngaro. No final da Segunda Guerra Mundial, tropas soviéticas libertaram o país do jugo nazista. A implantação do modelo socialista teve início em 1948, quando os comunistas, liderados por Klement Gottwald (1918-1989), deram um golpe de Estado.
Nos anos 60, o comunista moderado Alexander Dubcek iniciou uma série de reformas democráticas no país, que se tornaram conhecidas como "Primavera de Praga". Entretanto, Moscou não aceitou essa guinada: em 1968, tropas soviéticas invadiram a Tchecoslováquia e obrigaram o retorno à linha dura. No final dos anos 80, as reformas desencadeadas por Gorbatchev favoreceram a "Revolução de Veludo", assim denominada por ter promovido mudanças sem violências.

Em julho de 1990, o escritor tcheco Václav Havel, lider da oposição democrática, foi eleito presidente e logo deu andamento as reformas econômicas e políticas. Entretanto, um movimento separatista teve início no seio da nação eslovaca e se tornou irreversível em 1992; assim, em 1º de janeiro de 1993 a Tchecoslováquia se dividiu em dois Estados: a República Tcheca e a República da Eslováquia

Iuguslavia
A Iugoslávia surgiu com a união de três povos em 1918: eslovenos, croatas e sérvios. Passou a usar esse nome a partir de 1929. Durante a Segunda Guerra Mundial, esteve invadida pela Alemanha, mas os guerrilheiros resistentes os expulsaram em 1944, e, em 1945, o país se torna socialista.

Para aplacar o nacionalismo latente entre as diversas etnias da Iugoslávia, Josip Broz Tito dividiu o país em seis repúblicas federadas (Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedônia), mas com predomínio sérvio do governo federal. As regiões de Kosovo (com 90% de albanases) e da Voivódina (com 66% de húngaros) permaneceram integradas à Sérvia, mas a partir de 1974 suas etnias ganharam uma considerável autonomia.

Nos anos que se seguiram à guerra, o governo socialista do Marechal Tito se caracterizou por certo distanciamento de Moscou (não participava do Comecom ou do Pacto de Varsóvia) e pela criação de um governo rotativo colegiado, em que representantes de cada república se revezavam no poder.

http://www.brasilescola.com/historiag/tchecoslovaquia.htm
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/geografia/geografia_geral/economia_europeia/geral_iugoslavia

domingo, abril 11

A União Soviética e a Liga das Nações

A criação de um organismo internacional de manutenção da paz já vinha sendo pensada por trabalhos jurídicos e filosóficos precedentes, mas a primeira fonte da Liga das Nações foi mesmo a proposta na Conferência de Paz em Paris, em 1919, no Pós-Primeira Guerra. 

Criada em 1920, a Liga das Nações "tinha como finalidade promover a cooperação, paz e segurança internacional, condenando agressões externas contra a integridade territorial e a independência política de seus membros." A Convenção da Liga das Nações ainda estabelecia sanções econômicas e militares a serem impostas pela comunidade internacional contra os Estados que violassem suas obrigações, o que representou uma redefinição do conceito de soberania estatal absoluta.

Dos Estados que compunhão o Leste Europeu, o que mais se destacava no cenário internacional era a União Soviética. Entretanto, a mesma não entrou na organização, uma vez que, no início da década de 1920, logo após a implantação do socialismo, a nação tinha entre seus projetos a exportação da revolução e a luta para levar o socialismo ao mundo todo. Só alguns anos mais tarde, em 1926, com as mudanças na política internacional da URSS, o país entrou na Liga das Nações, assim como a própria Alemanha.

Muitos estudiosos acreditam que a Liga das Nações fracassou por defeitos de origem.  O principal deles seria a falta de um poder executivo forte, e também a ausência de países como a União Soviética e os Estados Unidos – a nação de seu idealizador. O governo de Moscou não era aceito e Washington não ingressou na organização por rejeitar o Tratado de Versalhes. Mesmo nos melhores tempos, o número de membros não passou de 50. Já em 1923, tornou-se evidente a fraqueza da Liga das Nações, quando os franceses invadiram a Renânia para cobrar reparações de guerra.

Mesmo com um longo período de ausência como membro da Liga das Nações, a União Soviética foi aceita no organismo em 1934. Uma das provas que mostram a ineficiência da Liga das Nações foi a invasão da Finlândia por parte da URSS, em 1939.  A esta altura, porém, já estava em pleno andamento a Segunda Guerra Mundial, que frustrou de vez as intenções pacifistas dos idealizadores da Liga das Nações, e a ultima ação da Liga foi expulsar a potência do Leste Europeu, URSS, da sua posição de membro da organização. 

Bibliografia:
http://educacao.uol.com.br/historia/liga-das-nacoes.jhtm
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,306975,00.html

sábado, abril 10

Revolução Russa de 1917 (Hobsbawn)

[...] Hobsbawm incita à colocação de uma pergunta, que seu livro não consegue responder: como foi possível chegar a isso? Como foi possível descer tanto na escala da civilização, apesar de uma vitória tão gigantesca para as forças progressistas como a Revolução Russa de 1917? Hobsbawm não pretendia mesmo responder a tudo. Mas incitar o leitor a se fazer perguntas dolorosas já é um mérito inestimável. As deficiências do livro estão mais no enfoque adotado na abordagem de alguns temas importantes.
O ano de 1917, explica Hobsbawm, pretendia ser o início da revolução mundial. E, desse modo, foi visto por milhões de pessoas, mesmo em países longínquos. Apesar disso, Hobsbawm acha que o mundo não estava maduro para uma revolução proletária naquele momento. É possível que seja uma suposição válida; e não é fácil provar o contrário. Mas cabe perguntar: será que algum dia haverá uma revolução que atinja imediatamente os principais países do mundo? Talvez o problema a resolver não seja por que a Revolução de 1917 não se espalhou imediatamente pelo mundo, mas antes por que a chama da revolução proletária pôde ser tão rapidamente submergida por uma vaga reacionária mundial. Vaga que Hobsbawm mostra detalhadamente ser mais ampla que os movimentos baseados explicitamente no modelo italiano ou alemão de fascismo.
Em todo o caso, verificou-se concretamente que os bolcheviques ficaram isolados e encurralados numa revolução nacional, cuja preocupação passou a ser logo a simples sobrevivência. Fato consumado. Mas o problema aqui é que Hobsbawm faz uma ligação direta entre a sobrevivência da Revolução Russa e a sobrevivência de uma unidade política abrangendo todo o antigo Império Russo. Essa ligação só teria sentido na perspectiva de uma "revolução socialista num só país", caso em que o tamanho do país é uma questão vital. Hobsbawm, porém, parece não acreditar na viabilidade da revolução socialista só na Rússia. Então seria o caso de fazer a distinção necessária: revolução mundial e sobrevivência da unidade do Império ex-czarista eram coisas diferentes e mesmo contrárias. Aliás, o governo bolchevique, em sua primeira fase, não pretendia impor-se sobre todo o ex-Império. Nessa fase é que foram concedidas, sem conflito, as independências da Finlândia, da Polônia e dos Estados Bálticos, todos anteriormente províncias do Império Russo. Nenhum desses novos países declarou-se socialista. Nem por isso, o governo bolchevique se achou na obrigação de impedir sua independência.
Não perceber a contradição entre revolução e império faz Hobsbwam valorizar a disciplina bolchevique de modo acrítico, misturando disciplina consciente e arregimentação cega, além de atribuir aos bolcheviques, objetivos que estes não se davam antes de 1921. Manter o Império havia sido objetivo central do czar e da impotente burguesia russa (impotente em parte porque se submetia ao czar e por amor ao Império), não era objetivo dos revolucionários .
Sem perceber isso, não dá para entender como foi possível que, após uma revolução da importância da de 1917, que despertou na humanidade as imensas esperanças descritas por Hobsbawm no capítulo doze, tenha sido imediatamente seguida do mais profundo retrocesso político do século. Apenas a não-extensão da Revolução Russa não é suficiente para explicar isso. A Revolução Francesa terminou militarmente derrotada. Nem por isso deixou de exercer influências libertárias que as próprias monarquias contra-revolucionárias tiveram que levar em conta para sobreviver. Já no caso da Revolução de 1917, ocorre o contrário. Cerca de dez anos depois desce a mais negra noite de todos os tempos: é "meia-noite do século", disse Victor Serge, sem que o partido que dirigira a Revolução Russa tivesse perdido o poder. Alguma coisa de muito essencial deve ter deixado de funcionar, sob a máscara de uma falsa continuidade política. E deve ter sido uma reviravolta muito mais grave e profunda que o Thermidor da Revolução Francesa.
As conseqüências disso se fizeram sentir antes, durante e no fim da Segunda Guerra Mundial. Hobsbawn descreve os sofrimentos causados pela Guerra como mero resultado das próprias operações militares. Mas nem tudo foi resultado inevitável do simples uso do poder destrutivo disponível na época. Na Primeira Guerra Mundial não se havia visto ato tão sanguinário como o massacre de quatro mil prisioneiros poloneses, por ordem de Stalin, em 1940. A Paz de 1945 repetiu as barbaridades da Paz de Versalhes com aumento, apesar da participação da potência ‘socialista’ entre os vencedores de 1945. A maior parte dos deslocamentos de povos no fim da última guerra foi puro revanchismo, com caráter explícito de limpeza étnica. Por incrível que pareça, no fim da Primeira Guerra Mundial foi possível ver um presidente burguês: Woodrow Wilson, dos EUA — ridicularizado por Lenin —, pregar uma paz sem anexações. No fim da Segunda Guerra Mundial, não houve voz contra o revanchismo. Treze milhões de alemães foram expulsos da Europa oriental e central, com o único objetivo de aumentar o lebensraum eslavo. Foram expulsos simplesmente pelo fato de serem alemães. É de Stalin a frase: "Um alemão só é bom, morto". Não disse um nazista. Assim, o que W. Wilson não havia conseguido em 1919 — ser levado a sério como campeão da democracia da autodeterminação dos povos — foi conseguido por Roosevelt e Truman sem muito esforço. Porque estes tinham em frente, como termo de comparação, a URSS, não mais a Rússia revolucionária dos tempos de Wilson.
Hobsbawm dá uma grande importância à depressão dos anos 30 como determinante dos rumos políticos da época. A depressão teria tido um papel decisivo em fazer da democracia "uma planta frágil", em muitos países. Isso até tem um fundo de verdade. Mas não é possível entender completamente a fragilidade da democracia no entreguerras sem lembrar o progressivo afastamento entre luta por liberdades democráticas e luta pelo socialismo, praticado pela III Internacional desde o começo. Essa prática — depois teorizada para justificar o despotismo stalinista — fez que o segmento importante do movimento operário deixasse de ser um baluarte contra os movimentos restauracionistas da ordem social, gerados pelo capitalismo em crise. Antes de 1914, ‘todo’ o movimento socialista fora também um movimento libertário. Além disso, para Hobsbawm, o impacto da depressão teria sido a grande força renovadora das idéias econômicas da época, porque a depressão teria desacreditado o pensamento econômico clássico, abrindo espaço para as políticas de regulação do capitalismo posteriores. Especialmente em razão desse descrédito da ortodoxia econômica, no segundo pós-guerra, os "formuladores de decisões", como diz Hobsbawm, passaram a ter preocupações centrais: obter uma distribuição de renda mais igualitária do que a normalmente ensejada pelo capitalismo ‘puro’ e evitar grandes níveis de desemprego.
Hobsbawm se deixa levar muito facilmente pela crença na racionalidade dos "formuladores de decisões" capitalistas. Ele chega a ponto de chamar de reforma do capitalismo" a adoção das políticas de pleno emprego e bem-estar social no segundo pós-guerra. Tal ‘reforma’ é definida por ele como "essencialmente uma espécie de casamento entre liberalismo econômico e democracia social". Um pouco de resguardo seria melhor.
Em situações de grande perigo social, os "formuladores de decisões" instalados no poder tendem fortemente a dividir-se entre dois tipos básicos de saída, conforme suas inclinações pessoais: partir para o enfrentamento com os movimentos reivindicatórios ou partir para concessões. Ora, no fim da Segunda Guerra Mundial, o perigo para o capitalismo era uma realidade assustadora. Diferentemente do que ocorrera na vez anterior, nenhum país em guerra da Europa ocidental, exceto a Grã-Bretanha, conseguira manter de pé o aparelho de Estado capitalista. Todos os demais países beligerantes emergiram da Guerra com aparelhos de Estado improvisados, em que se misturavam instituições criadas pela resistência antifascista e instituições de emergência criadas pelos exércitos de ocupação. Em várias regiões, houve ‘zonas liberadas’ por partisans antes da chegada dos exércitos regulares. Tentar impor soluções capitalistas ortodoxas naquela parte da Europa, naquela época, seria realmente demência suicidária. Razão pela qual todos os economistas com a tarefa de se dirigir ao grande público viraram subitamente humanistas sensíveis. Para explicar suas mudanças de opinião, economistas antes conhecidos como empedernidos mastigadores de ‘fatores de produção’, passaram a falar nas tristes recordações da Grande Depressão. Mas as tristes recordações não explicavam tudo.
Hobsbawn observa, pertinentemente, que os resultados da Segunda Guerra Mundial retiraram a extrema-direita do cenário político por um bom tempo. No fim da Guerra, só os "formuladores de decisões" dispostos a fazer concessões tinham voz e audiência. É isso que mais explica por que foi tão fácil fabricar um pacto aceitável para trabalhadores e patrões, então alçados à categoria nova de ‘parceiros sociais’. Chamar essas concessões de "reformas do capitalismo" exagera seu alcance e objetivos. As políticas de bem-estar social e pleno emprego do segundo pós-guerra foram uma resposta adequada a uma situação política em que o sistema capitalista se encontrava extremamente fragilizado na Europa ocidental, ao passo que a oriental estava ocupada pela URSS. Mas mesmo nos EUA, cujo governo do Partido Democrata terminara a Guerra prestigiado, não havia condições de ignorar as esperanças da enorme massa mobilizada para a Guerra e que retornava buscando o ‘mundo melhor’ que a propaganda oficial prometera durante todo o conflito. Por outro lado, em termos econômicos, na Europa, partia-se de infra-estruturas destruídas, com os trabalhadores e toda a classe média, baixa e alta, reduzidos às rações alimentares distribuídas pelo Exército dos EUA. Quer dizer: as possibilidades de investimento eram aparentemente infinitas, com grande espaço para uma distribuição mais igualitária de rendimentos, sem renúncia a lucros.
Hoje se pode ver que aquilo não era exatamente uma reforma do capitalismo porque assim que aquelas condições anormais deixaram de existir, o estado de bem-estar começou a ser atacado. E já nos anos 80, todos os economistas com clientes importantes voltaram aos mesmos cacoetes clássicos dos anos 20 e 30. Eles simplesmente voltaram a seu estado normal. Porque os Estados capitalistas estão agora firmes; e os "formuladores de decisões", no momento, não estão conseguindo enxergar a menor nuvem negra no horizonte à esquerda.
Talvez o pecado mais grave do livro seja a falta de conclusões convincentes sobre o "socialismo real" e o colapso da URSS. Sem dúvida, é bastante boa a comparação que Hobsbawm faz entre a URSS e China, assim como sua percepção de que o Estado burocrático chinês se mantém porque lançou suas reformas sobre uma população majoritariamente camponesa. Mesmo assim, não é o caso de deixar passar sem retoque a opinião da mídia, impressionada com a aparente estabilidade do regime chinês. E quanto às reformas de Gorbachev, a conclusão de que: "A URSS sob Gorbachev caiu nesse poço em expansão entre a glasnost e a perestroika", é muito pouco para explicar um colapso fragoroso que, por incrível que pareça, apenas cinco anos antes estava fora de qualquer previsão, mesmo por parte de seus mais ferrenhos adversários.
Não há como fugir a impressão de que, a respeito da URSS, viveu-se um equívoco universal durante decênios. Seria preciso pelo menos tentar uma explicação que começasse a abordar esse equívoco, partilhado pela direita e pela esquerda, quanto ao caráter e, sobretudo, à viabilidade do "socialismo real".
Em certo ponto do livro, Hobsbawm parece reconhecer que o regime soviético era inviável:
A tentativa de construir o socialismo produziu conquistas notáveis — não menos a capacidade de derrotar a Alemanha na Segunda Guerra Mundial —, mas a um custo enorme e inteiramente intolerável, e daquilo que acabou se revelando uma economia sem saída.
As "conquistas notáveis", no caso, estão todas ligadas à industrialização da URSS, que chegou a alçar-se à condição de segunda potência industrial do mundo, partindo praticamente do zero no fim da Guerra Civil, em 1920. Entretanto, o fato de que essa industrialização terminou num beco sem saída recoloca o problema do valor do método escolhido ou de algum equívoco fundamental que deve ter havido em suas origens; ou surgido em algum ponto de sua edificação.
Para tentar uma primeira resposta, poder-se-ia inquirir se uma industrialização obtida a chicote pode ter vida longa. O senso comum já é suficiente para suspeitar que o chicote não é bom instrumento para desenvolver a criatividade. O chicote pôde fazer a URSS alcançar momentaneamente o Ocidente, mas não ultrapassá-lo. A coerção desmesurada já continha os germens da estagnação tecnológica que levaria a URSS ao impasse mais tarde. Isso pode ser afirmado, mesmo que se queira aceitar o chicote como "motor" válido para a construção de algum "socialismo" monástico de baixo consumo. De qualquer maneira, no caso da URSS real, interessa ressaltar que o resultado alcançado foi provisório. Sua industrialização avançava inexoravelmente para um beco sem saída.
No entanto, apesar de reconhecer que o resultado final da industrialização stalinista foi a "economia sem saída", Hobsbawm mantém-se apegado à idéia de que a URSS não teria outro caminho a seguir nos anos 20-30:
Qualquer política rápida de modernização da URSS, nas circunstâncias da época, tinha que ser implacável e, porque imposta contra o grosso do povo, impondo-lhe sérios sacrifícios, coercitiva em certa medida.
A própria frase — "política (...) coercitiva em certa medida"— deixa no ar uma questão: em que medida? Aquela medida de coerção foi correta? Mais lógico, à luz do que Hobsbawm sabe hoje, seria dizer que talvez alguma coerção fosse inevitável "nas circunstâncias da época", porém a coerção stalinista provou ser incompatível com uma industrialização inovadora e sustentável a longo prazo. Ou, até mesmo, poderia continuar achando que, em 1929, não houvesse um caminho muito diferente à disposição de Stalin, mas para ser coerente com sua própria conclusão final sobre a economia soviética, Hobsbawm deveria também lembrar que o governo da URSS tinha que encontrar um meio de dispensar a coerção "contra o grosso do povo", o mais cedo possível, se quisesse manter a economia viável .
Sobra a impressão de que, a respeito da URSS, o arrazoado de Hobsbawm é, em parte, emotivo. Isso transparece mais fortemente na convalidação implícita das palavras de Oskar Lange em seu leito de morte:
Havia uma alternativa para a corrida indiscriminada, brutal, basicamente não planejada, ao primeiro plano qüinqüenal?. Gostaria de dizer que havia, mas não posso.
Hobsbawm parece não se dar conta que Oskar Lange, um defensor da economia planificada, morreu em 1965, ou seja, morreu a tempo de levar consigo suas convicções intactas. Os que morreram ou vieram a morrer depois de 1991 não têm mais esse privilégio, a não ser que, de 1989 em diante, tenham passado a circular de olhos vendados.
Além do mais, já antes do desabamento da URSS, surgiram novas informações sobre os anos 30, que O. Lange não chegou a conhecer. Informações que Hobsbawm mostra ter, ao sugerir veladamente que, somente para o Segundo Plano Qüinqüenal (1933-1937), poder-se-ia fazer uma estimativa de 16,7 milhões de mortos, vítimas da fome e da repressão. Isso é inferido da constatação do decréscimo da população da URSS no período do plano; informação classificada como secreta em 1938. Quer dizer: Stalin proibiu a divulgação das estatísticas demográficas do Segundo Plano Qüinqüenal porque estas depunham contra sua "vitória econômica".
As informações que se têm hoje sobre os anos 30 são arrasadoras. Mesmo continuando a aceitar que a URSS não poderia dispensar a imposição de sacrifícios ao povo naquela época, sobra base mais que suficiente para afirmar, em 1990, que aquela coerção foi de eficácia imediata altamente duvidosa, além de comprovadamente nefasta para o desenvolvimento futuro da URSS. Nessa questão da suposta necessidade histórica do stalinismo, talvez melhor seja deixar falar Moshe Lewin que, já em 1965, escreveu um artigo para a revista Soviet Studies, na qualonde, após descrever detalhadamente a enorme perda de energia humana e de meios materiais gerada pelos zigue-zagues desastrosos de Stalin durante a coletivização da agricultura, conclui:
Se é certo que a industrialização devia acarretar mudanças profundas no campo, é falso, a nosso ver, imaginar que tais mudanças só poderiam ser feitas através daquela coletivização que a Rússia experimentou. Por que fazer do kolkhoz a única forma de exploração coletiva, quando as estruturas aldeãs sugeriam outras soluções? (...) Pretender que a liquidação da esquerda, adepta entusiasta da coletivização e da política antikulak fosse uma pré-condição capital da industrialização futura e que essa liquidação devesse ser feita por um Stalin que, nessa época (1928-1929), sequer refletira sobre o que seria uma política futura, significa sustentar uma teoria bem estranha. Só é possível subscrevê-la aceitando outra teoria igualmente bizarra, que consiste em apresentar Stalin como um "deus ex-machina", como o único homem no Partido capaz de transformar a Rússia em país industrial.
Paralelamente a sua apreciação sobre a economia da URSS, Hobsbawm vai passando uma idéia, igualmente afetada por seus sentimentos pessoais, sobre a legitimidade dos Estados erguidos em nome do "socialismo real". Os acontecimentos espetaculares do fim dos anos 80 e início dos 90 na Europa oriental e na URSS dão larga margem a um questionamento da própria legitimidade dos regimes instaurados nessa parte do mundo.
A respeito da Europa oriental, Hobsbawm nota que as burocracias desses países procuraram retirar-se do poder discretamente (exceto na Romênia) "porque tinham visivelmente perdido a justificativa que mantivera seus quadros comunistas no passado". A justificativa, no caso, era o "socialismo real", que só funcionava sob a tutela da URSS. Quando esta acabou, deu uma epidemia de amnésia na Europa oriental. De repente, seus governantes não se lembravam mais de como tinham ido parar ali.
Para a URSS, a opinião de Hobsbawm é diferente:
Ao contrário de muitos estrangeiros, todos os russos sabiam bastante bem quanto sofrimento lhes coubera e ainda lhes cabia (em 1953). Contudo, em certo sentido, pelo simples fato de ser um governante forte e legítimo das terras russas e delas um modernizador, ele (Stalin) representava alguma coisa deles próprios.
Depois de confundir sobrevivência da revolução com sobrevivência do Império Russo, Hobsbawm só podia confundir conformismo do povo com legitimidade de Estado stalinista.
A legitimidade do Estado soviético nasceu e ficou ligada até o fim a seus laços com a Revolução de Outubro. Esses laços deixaram de ter realidade efetiva já nos anos 20, porém todos os burocratas que liquidaram as esperanças de Outubro tinham consciência de que a legitimidade de sua dominação dependia daqueles laços. Por isso, mantiveram a farsa do "socialismo" enquanto puderam. Quando não puderam mais, foi um salve-se quem puder. Diante de todos os acontecimentos dos anos 80 e 90, pode-se afirmar que a brutalidade aparentemente absurda de Stalin decorria, em parte, de sua legitimidade precária. Só partindo dessa premissa se pode começar uma discussão séria sobre as hecatombes de Stalin, superando a mera lamentação humanitária, assim como o conformismo com a suposta inevitabilidade de um regime "implacável" naquela época e lugar.
Somente um regime de legitimidade precária pode desabar da noite para o dia sem que se manifestem forças sociais significativas em sua defesa. O grande argumento histórico pró-Stalin (lembrado por Hobsbawm) foi sua vitória sobre Hitler. De fato, foi a vitória sobre os nazistas que deu à burocracia do Kremlin a autoridade que lhe permitiu prolongar seu regime até o fim dos anos 80. Entretanto, uma olhada mais detalhada nos grandes fatos históricos é indispensável, para quem não quer se contentar com panegíricos.
A agressão hitleriana mostrou, desde seu primeiro momento, uma face brutalmente racista e antieslava (não só anticomunista), que tornou impossível qualquer movimento de simpatia em relação aos invasores por parte dos povos da Europa soviética, exceto de alguns, não-eslavos, da área do Cáucaso. É inegável que o extremo reacionarismo do comando nazista foi um fator favorável a Stalin; do mesmo modo que o extremo reacionarismo dos "brancos" na época da Guerra Civil (1918-1920) fora um fator favorável aos bolcheviques. O racismo antieslavo do comando nazista facilitou a aglutinação dos russos, ucranianos e bielo-russos em torno do único Estado que parecia capaz de salvá-los da aniquilação completa. Stalin mobilizou o povo fazendo apelo basicamente ao patriotismo. Os operários escreviam sobre os tanques, antes de remetê-los ao front: za rodinu (pela pátria). Se Stalin tivesse tentado mobilizar o povo pelo "socialismo" dos Planos Qüinqüenais, certamente ter-se-a desastrado. Não por acaso, o nome oficial da Segunda Guerra Mundial na URSS era ‘Grande Guerra Patriótica’. E assim a Guerra foi entendida pelo povo. Isso permite qualificar a legitimidade ganha pelo regime com a vitória sobre a agressão nazista. O regime legitimou-se como defesa eficaz dos povos eslavos contra agressores externos. Quer dizer: obteve um novo tipo de legitimidade, mais restrito. Nem antes, nem durante, nem depois da Guerra, o "socialismo" de Stalin foi sentido como aceitável e legítimo pelos povos da URSS, eslavos ou não.
O próprio Hobsbawm ressalta o apoliticismo extremo do povo nos países do "socialismo real". Ora, o apoliticismo na URSS tinha um significado especial. Era o único país do mundo que não podia ter um povo apolítico. Porque era o único que tinha como meta oficial ‘elevar o nível de consciência política da população’, para isso restringindo a propaganda religiosa e instituindo um certo ‘marxismo’ como matéria obrigatória em todos os níveis de ensino. Sob tal ordenamento da vida cultural, o profundo apoliticismo do povo soviético valia como uma rejeição maciça do regime.
Então, as conclusões devem ser tiradas: o Estado soviético conseguiu legitimar-se? Sim. Porém, em primeiro lugar, conseguiu-o somente depois da Segunda Guerra Mundial e não para todos os povos da URSS; em segundo lugar, essa legitimidade parcial e diferente da pretendida originalmente não dizia respeito ao "socialismo real".

por Vito Letízia